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domingo, 16 de junho de 2013

Igreja e sociedade







Igreja e sociedade




Por: Fernando Marin


 Nos últimos dias a nação se surpreendeu com protestos em várias cidades motivados pelos aumentos das tarifas do transporte público. Surpresa maior, foi constatar que essas manifestações foram espontâneas, ou seja, não foram organizadas por partidos políticos, agremiações estudantis, não, elas partiram de postagens nas redes sociais, que meu amigo de Manaus, o Josenilson, chama de "o maior de todos os partidos políticos".

 Essas manifestações foram reprimidas com violência, o que veio a causar mais violência ainda, com vandalismo, depredações, como acontece em qualquer outra parte do mundo. O que mais revoltou a população foi o fato de  que a polícia, em geral, não está preparada - talvez por falta de hábito - a lidar com manifestações populares, o que, talvez, tenha gerado atos desproporcionais de ambos os lados.

 Com certeza, não foi coincidência que esses protestos estejam acontecendo ao mesmo tempo em que a Copa das Confederações se inicia, creio que a Copa tem grande parcela de responsabilidade neles, devido aos bilhões de reais investidos em estádios, sempre com a justificativa de que esse é um investimento que trará turistas ao país.

 Sim, com certeza, até porque poucos são os brasileiros que podem pagar pelos ingressos caros dos jogos e, portanto, usufruir do conforto dos novos estádios, todos nas mãos da FIFA, que explora até mesmo quem opera os bares e demais serviços nesses locais, mas principalmente porque o povo está ocupado demais nas filas para conseguir uma consulta médica, um exame, uma cirurgia ou às voltas com a baixa qualidade das escolas (apenas 0,6% delas são consideradas de padrão ideal), ou correndo de assaltantes, de balas perdidas  e por aí vai.

 Na abertura da Copa, uma grande vaia surpreendeu e constrangeu o presidente da FIFA e a nossa própria presidente ( não me acostumo de forma alguma com a palavra 'presidenta"), mostrando o descontentamento popular com a forma pela qual o Brasil está sendo "governado", apesar das pesquisas que dão ampla aprovação do povo com o atual governo ( bom, pesquisas não são mesmo muito confiáveis).

 Paralelamente, outras manifestações estão sendo programadas, agora cobrando punição para corruptos, contra a violência, pedindo moradia e outros direitos dos quais grande parcela da população brasileira está alijada, deixando o governo em uma situação delicada em uma época em que o  país é o foco das atenções esportivas mundiais.

 Mas, uma frase me chamou a atenção nisso tudo. Ela foi postada por alguém em uma rede social, e dizia algo assim:"Pastor, deixe seu púlpito e vá para as ruas cobrar os direitos das pessoas!".

 E aí, me pergunto: qual é o papel da igreja frente às demandas sociais justas?

 Quando recorremos à Bíblia, e analisamos os evangelhos com olhos cuidadosos, constatamos que a verdadeira salvação envolve corpo, alma e espírito. Quando lemos em Mateus capítulo 25, versos 34-36 ( " Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: 'Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo'".), entendemos que o Reino será daqueles que: alimentaram ( "Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água") ; foram hospitaleiros ( "Era estrangeiro, e me receberam na sua casa"); cuidaram ( "Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim");  foram solidários ("Estava na cadeia, e foram me visitar".). E o texto nos deixa bem claro que quando deixamos de ajudar a quem precisa, nos afastamos da vontade de Jesus (" O Rei responderá: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: todas as vezes que vocês deixaram de ajudar uma destas pessoas mais humildes, foi a mim que deixaram de ajudar" Cap.25 verso 45).

 Ainda na Bíblia, encontramos uma forte argumentação libertadora partindo do próprio Deus, como lemos no Êxodo. Lá, Ele recebe os pedidos do povo que se encontrava escravizado e oprimido no Egito e nomeia Moisés para libertar israel do cativeiro, conduzindo -os para a terra que "mana leite e mel".

 Como teólogo, não posso me omitir em relação à Teologia da Libertação, da década de 70, que foi considerada comunista devido justamente à sua argumentação pró-libertação do povo frente às opressões causadas pelo capitalismo, por governos ditatoriais, pela miséria, fome, falta de educação, saúde pública, emprego, moradia.

 Sim, creio que os pastores, padres e demais líderes cristãos deveriam estar à frente do povo de Deus exigindo que os direitos da população sejam respeitados, que todos possam usufruir do Reino já, desde agora, levando uma vida digna e sendo verdadeiramente libertos de todo o tipo de opressão e desigualdade social.

 Essa é a verdadeira salvação a que se refere Jesus Cristo !

Fernando Marin

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