Por: Fernando Marin
É interessante ver muitos cristãos reivindicando para
suas congregações status de "Igreja Primitiva". Porém, quando lemos
com atenção o texto bíblico de Atos 2, versículos 42 a 47, vemos que a situação
de hoje é muito diferente daquela que
havia nos dias em que Jesus Cristo e os
seus apóstolos caminhavam sobre a terra.
Aliás, passa longe disso. Pelo menos,
é o que nos mostra o texto citado, que retrata de forma clara e objetiva o que
era de verdade a primeira igreja cristã da história da humanidade.
Atos 2.42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e
na comunhão, no partir do pão e nas orações.
Lemos que a igreja perseverava ( gr “proskartereo”) ,
quer dizer, estava constantemente atenta a, dava constante cuidado a algo. Perseverar é não desfalecer; mostrar-se corajoso para estar em constante
prontidão para alguém, servir constantemente.
Perseveravam na doutrina (gr “didache”). Tem o sentido de: ensino a
respeito de algo; fazer uso do discurso como meio de ensinar.
Quando a Bíblia usa este termo, obviamente
quer se referir à Palavra de Deus, aos ensinamentos inspirados dos apóstolos,
primeiramente transmitidos pela via oral e depois preservados no Novo Testamento.
Temos várias passagens bíblicas que comprovam isso, por exemplo, na pregação de
Pedro no dia de Pentecostes. Ele citou textos de Joel, Salmos e completou com o
evangelho da salvação. Foi mais do que
suficiente para que quase três mil pessoas cressem e fossem salvas!
A Bíblia , em Romanos 10.17, diz claramente que "a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de
Deus". Isso implica que na igreja de Deus não há espaço para a pregação de outra
coisa que não seja a Palavra. Hoje, a defesa da tradição invadiu muitas
igrejas evangélicas, que as defendem , mesmo
que muitas vezes elas sejam anti-bíblicas,
para manterem seus usos e costumes. São as famosas doutrinas de homens. Isso
não existia na igreja primitiva.
O texto diz que "perseveravam na doutrina dos apóstolos e
na comunhão".
O que é comunhão? “Koinonia”. Tem o sentido de: comunidade,
participação conjunta, relação. Os primeiros cristãos sentiam o desejo de conviverem
em comunidades, pois se achavam como peregrinos aqui e queriam compartilhar com
os demais dos seus interesses comuns.
Cristo sempre ensinou sua igreja a andar
unida.
Lemos em Eclesiastes
4.9-12 "Melhor é serem dois do que um (...), se um cair, o outro levanta
seu companheiro. Mas ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá quem o
levante. Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão. O
cordão de três dobras não se rompe tão depressa."
Atualmente, nem
sempre se vê esse tipo de comportamento na igreja, o eu, o individualismo,
muitas vezes se sobrepõem ao coletivo. Isso não existia na igreja primitiva.
Perseveravam no partir do pão. O pão era um alimento
muito importante, na época, e era bastante consumido nos “ágapes” (festas de amor e de comunhão),
que normalmente aconteciam aos domingos, por ocasião da Santa Ceia.
O que
Cristo demonstrou como sinal de integração se perdeu no tempo. Nosso Senhor
gostava de ver as pessoas se alimentando, comendo juntas, e não só de alimento
perecível, mas também da Palavra, do Pão vivo que desceu do céu ("Nem só de pão vive o homem, mas de toda
palavra que sai da boca de Deus." Mateus 4.4).
O partir do pão, algo tão corriqueiro na igreja de
Jerusalém, nos dias de hoje perdeu parte do seu sentido, muitas vezes o que
vemos são reuniões de pequenos grupos, não integrados entre si , quase que
“panelinhas”, a comunhão verdadeira é algo raro de se encontrar. Ao final do
culto , as pessoas se despedem e só se reencontram no domingo seguinte, uma
situação bem diferente da que imperava nos primórdios da igreja.
O texto que abordamos continua, agora, no tocante à
oração. Infelizmente, até mesmo essa
saudável e primordial prática cristã parece que caiu em desuso. Os cultos
dedicados à oração são, em geral, os de menor participação nos dias atuais, com
poucas pessoas partilhando seus pedidos e com poucas intercedendo pelos demais,
num afastamento gritante do que se compreende através do texto de Atos.
Mesmo nos cultos dominicais, cada vez menos tempo é
dedicado aos agradecimentos e pedidos a Deus, bem menos do que o tempo dedicado
aos louvores, coreografias, teatros e demais atividades, essas, sim, estranhas
à igreja primitiva.
É importante observarmos que essas práticas não eram
ações esporádicas. O texto é claro em dizer que eles PERSEVERAVAM nisso tudo. E
este foi sem dúvida o segredo de serem abençoados: PERSEVERAR ("Aquele que perseverar até o fim será
salvo." Mateus 10.22).
Por tudo isso, o povo acabou por desenvolver um temor
reverente, suas almas se encheram de espanto quando viam os prodígios (
milagres) e sinais ( milagres que transmitiam ensinamentos) que os apóstolos
realizavam sob o poder do Espírito Santo.
Eles se reuniam com frequência, e “tinham tudo em comum”,
através do amor de Deus que sentiam derramado em seus corações, não
consideravam os bens materiais como exclusivamente seus, em caso de necessidade,
esse bem era vendido e a sua renda era distribuída pelos que mais necessitavam.
Importante, também, é refletirmos sobre Atos 2.46 , onde
lemos que "perseveravam unânimes TODOS OS DIAS no templo e nas suas casas”.
Queremos imitar a igreja primitiva nos dias atuais, mas a grande maioria das
pessoas só comparece aos cultos uma ou duas vezes por semana , afirmando que uma frequência maior do que essa é um
exagero.
Existem agora, ainda, os chamados “desigrejados”, ou
seja, milhares de cristãos que, por discordarem de muitos fatos que ocorrem nas
congregações, preferem prestar seus cultos em casa, deixaram de frequentar os
templos, se afastaram da comunhão por razões pessoais.
Diz ainda o texto, que o povo fazia as suas refeições
diárias “ com alegria e singeleza de coração”, com a alegria da salvação
influenciando todos os detalhes da vida diária, conferindo um ar de glória à
todas as atividades do cotidiano.
No versículo 47, vemos que a igreja contava “com a
simpatia de todo o povo”, já que essa forma alegre e confiante de vida,
contagiava os demais, a ponto de muitos se converterem apenas pelo testemunho de
vida daqueles cristãos.
Para eles, a vida tinha se tornado palco de louvor e
gratidão a Deus, pela libertação do poder das trevas e pela possibilidade da
participação no Reino .
"E
todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam sendo
salvos."
Portanto, já que os cristãos primitivos perseveravam todos os dias na doutrina, na comunhão, no
partir do pão e nas orações, ou seja, a partir do momento em que a igreja vivia
da maneira que agradava a Deus, Ele todos os dias acrescentava mais e mais
pessoas ao grupo, abençoando e expandindo o número de salvos diariamente.
Já imaginou, todo dia Deus salvando pessoas através das
nossas igrejas?
Quando agimos da forma bíblica, como foi recomendado por
Jesus, Deus abençoa e opera poderosamente!
Creio que o texto bíblico de Atos 2 – 42 a 47, deveria
nortear nossas atitudes cristãs no tocante ao nosso comportamento como igreja,
já que ele nos revela a verdadeira vontade de Jesus em relação à sua noiva, tão
maltratada, tão desfocada dos seus principais objetivos, tão usada por muitos
que, por meio dela, procuram se projetar, enriquecer, enquanto observamos
tantas e tantas pessoas próximas de nós que necessitam de atenção, de salvação,
de cuidados que somente uma igreja comprometida com os seus fins pode oferecer.
Quando lemos essa passagem bíblica, percebemos quase que
imediatamente, o quanto que a igreja de hoje se afastou da alegria, do vigor e
da solidariedade que eram as suas características dos seus primeiros dias.
Será que Jesus está feliz conosco?
Fernando Marin
Boa tarde,Pr.Fernando Marin!Parabéns por este poste abençoador e muito exclarecedor.Uma grande realidade entre as linhas desta mensagem.O Senhor derrame sobre ti toda sorte de Bênçaõs!
ResponderExcluirAbraços de:Falando em Amizade
Falando em Amizade, amiga, muito obrigado pelas palavras abençoadoras e de estímulo!
ResponderExcluirAbraços!
a Igreja primitiva tinha muito em comum, as nossas igrejas hoje tem muita coisa incomum, e muitas vezes naquilo que parece ser comum, ainda há discordância.Alias perdeu-se o sentido de Igreja em favor do sentido de instituição, perdeu o sentido da universalidade da Igreja, em favor do seu sentido local, provinciano e muitas vezes restrito a uma denominação. Que Deus nos guie nos trilhos da Igreja, da não da Igreja do Apostolo tal, nem do Bispo Fulano, mas da Sua Igreja Edificada sobre a Rocha.
ResponderExcluirSamuel Rodrigues www.didaqueteologia.blogspot.com
Samuel
ResponderExcluirÉ isso mesmo, costumo dizer que a igreja de hoje perdeu o seu foco.
Seria necessária uma nova reforma?
Abraço.